O curta de animação intitulado “A
História das Coisas” tem muitas qualidades. Em poucos minutos, o curta consegue
demonstrar como a lógica do consumismo e do lucro privado interferem na
dinâmica produtiva, na exploração dos trabalhadores e, por conseguinte, na
própria sobrevivência do planeta.
Dentro do âmbito da Vigilância
Sanitária, “A História das Coisas” oferece boas reflexões, que serão aqui
enumeradas:
1. Sendo
a Vigilância Sanitária um campo de atuação estatal que tem por objeto o
controle de riscos sanitários advindos de serviços e produtos, o servidor de
VISA encontra-se imerso dentro de conflitos existentes entre a segurança da
população e os interesses econômico financeiros de grupos privados. Desta
forma, todo aquele que atua na VISA deve possuir uma visão crítica sobre a
realidade produtiva, não apenas para que suas ações não comprometam a economia
de uma cidade ou estado, mas, acima de tudo, para que ideologias falaciosas
sobre o desenvolvimento econômico não prevaleçam sobre a defesa da saúde da
população. Em outras palavras: um agente público da VISA não pode ser enganado
por discursos produtivistas focados na exploração de trabalhadores, na
proliferação de riscos e na lucratividade a todo o custo
2. “A
História das Coisas” demonstra que o servidor público que atua na Vigilância
Sanitária não pode ser um ator social limitado a avaliar o risco de um
estabelecimento ou de um produto. Muito mais que isso: o seu conhecimento
técnico deve estar o tempo todo associado a conteúdos políticos, de modo que ele
possa abranger, dentro da sua análise, a capacidade de mensurar as externalidades
positivas e negativas que emanam de um serviço ou produto, buscando levar tais
questões a instâncias de controle popular, já que o interesse que se defende
aqui é o de toda a sociedade.
3. A
questão da obsolescência muitas vezes pode se relacionar a danos à segurança
dos consumidores. Na medida em que um produto é construído para entrar em
colapso dentro de um espaço de tempo relativamente curto, os defeitos que
surjam podem comprometer a saúde da população. Até que ponto a VISA não deveria
monitorar mais de perto a questão relativa à segurança de produtos e os seus
efeitos na saúde pública? Será esta uma ação restrita aos órgãos de controle de
qualidade?
4. Dentro
da ótica da Economia de Materiais, deveríamos dar mais importância à questão do
manejo de resíduos. O controle poderia se dar não apenas à forma como o lixo é
manejado em si, podendo se expandir até mesmo para uma avaliação sobre a
quantidade de resíduos. Tal quantidade é compatível com o número de
procedimentos realizados? Os Procedimentos Operacionais Padrão e outras normas
de rotinas dos serviços abrangem questões relativas ao uso controlado de
materiais, de modo a evitar o desperdício? O produto poderia ser fabricado com
matérias prima menos lesivas ao ambiente e às pessoas?
5. Na
medida em que os fatos sociais não se encontram isolados, e a saúde pública é
uma área que dialoga constantemente com a proteção à saúde do trabalhador e à
proteção ao meio ambiente, “A História das Coisas” e o seu olhar amplo sobre a realidade
demonstram sobre o quanto é importante pensarmos em meios cada vez mais
efetivos de interação entre as diferentes Vigilâncias.
6. Como
a lógica que estimula o acúmulo financeiro das corporações pode impor
obstáculos à VISA? Ora, se a VISA é uma área que busca regular o Mercado,
impondo-lhe limitações em nome do interesse público, é natural que o Mercado,
enquanto instância de poder com alto grau de influência, coloque-se como
antagonista.
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