sábado, 17 de junho de 2017

A História das Coisas – The Story of Stuff

O curta de animação intitulado “A História das Coisas” tem muitas qualidades. Em poucos minutos, o curta consegue demonstrar como a lógica do consumismo e do lucro privado interferem na dinâmica produtiva, na exploração dos trabalhadores e, por conseguinte, na própria sobrevivência do planeta.

Dentro do âmbito da Vigilância Sanitária, “A História das Coisas” oferece boas reflexões, que serão aqui enumeradas:

1.   Sendo a Vigilância Sanitária um campo de atuação estatal que tem por objeto o controle de riscos sanitários advindos de serviços e produtos, o servidor de VISA encontra-se imerso dentro de conflitos existentes entre a segurança da população e os interesses econômico financeiros de grupos privados. Desta forma, todo aquele que atua na VISA deve possuir uma visão crítica sobre a realidade produtiva, não apenas para que suas ações não comprometam a economia de uma cidade ou estado, mas, acima de tudo, para que ideologias falaciosas sobre o desenvolvimento econômico não prevaleçam sobre a defesa da saúde da população. Em outras palavras: um agente público da VISA não pode ser enganado por discursos produtivistas focados na exploração de trabalhadores, na proliferação de riscos e na lucratividade a todo o custo

2.  “A História das Coisas” demonstra que o servidor público que atua na Vigilância Sanitária não pode ser um ator social limitado a avaliar o risco de um estabelecimento ou de um produto. Muito mais que isso: o seu conhecimento técnico deve estar o tempo todo associado a conteúdos políticos, de modo que ele possa abranger, dentro da sua análise, a capacidade de mensurar as externalidades positivas e negativas que emanam de um serviço ou produto, buscando levar tais questões a instâncias de controle popular, já que o interesse que se defende aqui é o de toda a sociedade.

3.  A questão da obsolescência muitas vezes pode se relacionar a danos à segurança dos consumidores. Na medida em que um produto é construído para entrar em colapso dentro de um espaço de tempo relativamente curto, os defeitos que surjam podem comprometer a saúde da população. Até que ponto a VISA não deveria monitorar mais de perto a questão relativa à segurança de produtos e os seus efeitos na saúde pública? Será esta uma ação restrita aos órgãos de controle de qualidade?

4.       Dentro da ótica da Economia de Materiais, deveríamos dar mais importância à questão do manejo de resíduos. O controle poderia se dar não apenas à forma como o lixo é manejado em si, podendo se expandir até mesmo para uma avaliação sobre a quantidade de resíduos. Tal quantidade é compatível com o número de procedimentos realizados? Os Procedimentos Operacionais Padrão e outras normas de rotinas dos serviços abrangem questões relativas ao uso controlado de materiais, de modo a evitar o desperdício? O produto poderia ser fabricado com matérias prima menos lesivas ao ambiente e às pessoas?

5.      Na medida em que os fatos sociais não se encontram isolados, e a saúde pública é uma área que dialoga constantemente com a proteção à saúde do trabalhador e à proteção ao meio ambiente, “A História das Coisas” e o seu olhar amplo sobre a realidade demonstram sobre o quanto é importante pensarmos em meios cada vez mais efetivos de interação entre as diferentes Vigilâncias.

6.    Como a lógica que estimula o acúmulo financeiro das corporações pode impor obstáculos à VISA? Ora, se a VISA é uma área que busca regular o Mercado, impondo-lhe limitações em nome do interesse público, é natural que o Mercado, enquanto instância de poder com alto grau de influência, coloque-se como antagonista. 




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